segunda-feira, 4 de maio de 2009

ARTIGO
Primeiro de Maio: Dia do Trabalho ou do Trabalhador?

por Henrique Cignachi
Estudante de História UFSM


Para alguns, apenas mais um feriado no ano, algo a atrapalhar os “negócios”. Para outros, um dia de caráter festivo, inclusive com direito a sorteios. Mas para outros, é um dia a ser lembrado de forma crítica, para a reivindicação-manutenção de direitos e para a luta por uma sociedade em que o trabalho seja dos próprios trabalhadores e trabalhadoras.

A fim de melhor entendermos a data, é necessário buscar sua historicidade. O 1º de maio deve ser entendido como resultado de um processo histórico de luta de classes iniciado a mais de dois séculos e de onde, desde então, é difícil esboçar uma “harmonização” ou negação desta sem que antes seja abolida a exploração do homem sobre o homem.


Na Europa, o progresso da Revolução Industrial criou também uma gigantesca massa de trabalhadores, os chamados “proletários” (que não possuem propriedade, apenas os filhos e a força de trabalho), derivados do êxodo rural forçado através das pressões econômicas e coerção direta dos Estados (o que não deixa de ser um fenômeno atual). Em todo o mundo, essa massa de trabalhadores começava a se tornar uma grande força que questionava a ordem social e econômica, ao qual estavam e continuam sendo subjugados através da expropriação de seu trabalho pelos proprietários da terra, da indústria e do comércio. Reunidos sob o lema “operários de todo o mundo, uni-vos!” e sob o corolário das idéias comunistas/socialistas/anarquistas, contrapunham-se à ordem instaurada pelo capitalismo. Esta peleja também foi uma constante no Brasil, principalmente na luta dos escravos contra senhores, na criação de sociedades autônomas – os quilombos - e na luta dos t rabalhadores assalariados a partir do início do século XX, através de greves e pela participação política na democracia representativa.

O primeiro de maio, enquanto data rememorativa tem origem em manifestações ocorridas nos Estados Unidos no final do século XIX. Em Chicago, no dia 1º de maio de 1886, os operários norte-americanos entraram em greve geral: “A partir de hoje nenhum operário deve trabalhar mais de oito horas diárias. Oito horas de trabalho! Oito horas de repouso! Oito horas de educação!” Vários operários são mortos na repressão policial que se seguiu (as greves eram consideradas ilegais) e cinco líderes condenados à morte por enforcamento. Nos anos seguintes, a classe se organiza anualmente para relembrar os mortos e prosseguir com a luta. A proposta é aprovada em Paris, no encontro da Associação Internacional dos Trabalhadores em 1889 e, pelo seu êxito em congregar lutas, é aprovada a manutenção anual da data para a manifestação da classe trabalhadora internacionalmente.

No Brasil, a apropriação da data não deixou de ser diferente, mas logo foi subvertida em seu sentido original. No pós-1930, Vargas dá caráter oficial e recreativo a data, sempre decretando direitos trabalhistas e aumentos no dia, mas com o intento de agregar os trabalhadores de forma moderada ao nacionalismo e a fim de reprimir o movimento operário comunista/anarquista. Assim o 1º de maio passou a ser considerado “dia do trabalho”, e não do trabalhador que é quem realiza o trabalho e é quem mais sofre as conseqüências da não distribuição democrática e igualitária deste.

Cabe então realizarmos, principalmente os trabalhadores do campo e da cidade, a reflexão critica deste processo. Mesmo hoje com um ex-operário na presidência, as políticas públicas em relação aos trabalhadores continuam sendo ameaçadas, como nesta crise em que não há atitudes concretas para salvar os empregos, mas tão somente os lucros dos empresários, multinacionais e grandes financistas-banqueiros. Apenas a nossa luta e conscientização cotidiana, organizada em partidos e associações de classe contendo propostas revolucionárias, poderão nos levar a criar uma sociedade em que possamos estabelecer a regra máxima do “cada um segundo suas capacidades, cada um segundo suas necessidades”.

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